Sem kwanzas, luandense troca os azuis e brancos pela sola do sapato

© Borralho Ndomba/DW

Aumento de tarifas

Há uma semana Luanda passou a testemunhar um aumento significativo de pedestres pelas ruas e avenidas. E não se trata de culto à prática do exercício físico, tão importante para saúde, ou treinamento para as competições de atletismo dos Jogos Olímpicos de Paris.

O fenômeno é consequência da falta de kwanzas para pagar o transporte público com aplicação da nova tarifa dos táxis coletivos em todas as rotas, numa extensão de até 16 quilómetros por trecho. A despesa saltou de 150 kwanzas (0,16 euros) para 200 kwanzas, cerca 0,22 euros, um reajuste de 33% comparativamente à tarifa antiga.

Os aumentos são contestados por estudantes e cidadãos que fizeram à agência de notícia Lusa eco do seu descontentamento, com alguns a rogarem por intervenção divina para “iluminar” os decisores políticos, levando-os a recuarem numa medida que “penaliza mais os cidadãos, sobretudo os de baixa renda.

A tarifa dos transportes públicos coletivos urbanos rodoviários de passageiros também sofreu alteração. A viagem de autocarros que custava 50 kwanzas passa agora para 150 kwanzas (0,16 euros) nas rotas com uma extensão mínima de 20 quilómetros.

A justificativa para o aumento foi a retirada da subvenção estatal ao combustível para os taxistas. O governo deliberou o ajuste gradual dos produtos derivados de petróleo para níveis de mercado até 2025. Seguiu-se o gasóleo, no mês passado, que subiu de 135 kwanzas (15 cêntimos) para 200 kwanzas por litro (cerca de 20 cêntimos).

Para um país cuja a taxa de pobreza cresce todos os anos, passando de mais de 12 milhões de pessoas (41,7%) em 2019 para 17 milhões (50%), a única saída para cidadãos e estudantes é percorrer a pé longas distâncias, poupando os 150 kwanzas da viagem de autocarro.

Estima-se que aproximadamente 70% da população luandense utiliza os candongueiros como principal meio de transporte urbano. Há aproximadamente 35 mil operadores de táxis, transportando cerca de cinco a sete milhões de passageiros por dia, fora os 15 mil mototáxis.

O promotor de vendas, Mauro Jerónimo, vive no Cazenga e trabalha no Talatona. Num único trajeto pega três táxis. “Se fizer o mesmo trajeto 30 ou 28 dias durante um mês, vai ficar sem nada. Somando 500 kwanzas mensal, já são 15 mil, se somar 1000, tens 30 mil kwanzas para o táxi por mês. Ficas quanto nas mãos? Ficas sem valor nenhum”.

Um salario mínimo ridículo.

Jerônimo refere-se ao salário mínimo nacional de 32.000 kwanzas, cerca de 37 dólares. Para se ter uma ideia do baixo valor, Angola está a 128 dólares de Cabo Verde, o país africano de expressão portuguesa que tem o mais alto ordenado mínimo nacional (USD 165,7).

Na sequência vem Moçambique, com 137 dólares, São Tomé, 107, e Guiné Bissau com um salário mínimo nacional equivalente a 80,6 dólares norte-americanos.

O sindicalista Custódio Cupessala, líder da Federação Nacional dos Sindicatos da Administração Pública, Saúde e Serviços, que luta pelo fim das assimetrias salariais, diz que o governo angolano não altera o quadro por falta de vontade e alerta para fraca produção de bens no país.

“A maioria dos países africanos não tem recursos como Angola e a Comissão Económica do Conselho de Ministros prometeu fazer um estudo comparativo nesse sentido, mas até hoje não sabemos de nada”, afirma Cupessala.

O vai e volta do Petróleo.

O luandense está também indignado com o aumento no combustível pelo simples fato de Angola ser o segundo maior produtor de petróleo da África, com a produção de 1,1 milhão de barris de petróleo bruto por dia.

Mas o que a maioria do angolano desconhece é que o processamento próprio de petróleo bruto em Angola cobre apenas cerca de 20 a 30% do seu consumo de óleo diesel (gasóleo) e gasolina. O país ainda é muito dependente dos produtos petrolíferos que vêm do estrangeiro.

O petróleo e o gás geram quase 3/4 das receitas de exportação do país, mas depois o país tem de subtrair o ganho para comprar produtos petrolíferos. E quem acaba pagando essa conta e ficando a pé é o povo do seu país.

A solução esta em tornar Angola uma produtora significativa de gasóleo e gasolina e assim depender menos da gangorra do preço internacional dos derivados dando mais um passo em direção a verdadeira liberdade e soberania.

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