Angola possui uma vasta extensão de terras aráveis, estimadas em cerca de 35 milhões de hectares, das quais só uma pequena fração – apenas 17% – é actualmente cultivada.
Desse universo, 80% dos camponeses continuam a trabalhar com um equipamento estritamente manual, sem auxílio sequer de tração animal ou mecanização.
Segundo o agrónomo Fernando Pacheco, ex-assessor para o sector social do presidente José Eduardo dos Santos e ex-membro do Conselho da República, menos de 5% da agricultura usa tratores na produção. E, acredite se quiser, há pequenos estabelecimentos que se valem de tração animal e charruas, em torno de 15%.
O dado é alarmante num país em que a agricultura familiar é responsável por 91,5% da área total semeada e 82,5% da produção total do país.
Um povo com fome e uma agricultura que não cresce!
Em Angola, a agricultura tem crescido gradualmente em um ritmo muito lento não ultrapassando 7% do total do PIB do país pelo menos nos últimos 10 anos.
Existem diversos factores que têm dificultado o pleno aproveitamento do potencial agrícola de Angola como uma potência neste sector.
Alguns dos principais desafios enfrentados incluem:
- Destruição de estradas, pontes, silos e outros equipamentos agrícolas durante a guerra civil, o que ainda dificulta o escoamento da produção e acesso a mercados;
- Falta de investimentos adequados em infraestruturas de irrigação, armazenamento e processamento de alimentos;
- Baixa disponibilidade e alto custo de sementes, fertilizantes, máquinas e outros insumos agrícolas;
- Dificuldade de pequenos e médios produtores em obter financiamento e crédito rural;
- Disputa por terras entre grandes proprietários e pequenos agricultores;
- Dependência excessiva da exportação de petróleo, com pouca diversificação da economia.
Uma produtividade beirando o ridículo
O facto é que a produtividade agrícola em Angola é muita baixa devido à escassa adoção de tecnologias avançadas. Tomando como exemplo a cultura de milho – que representa 97% do total de cereais produzidos no país – predominantemente administrada por pequenos agricultores familiares, observa-se uma produtividade média de apenas 1.120 kg por hectare em 2022(FAOSTAT).
Este desempenho é substancialmente inferior aos padrões observados em potências agrícolas globais como os Estados Unidos e o Brasil, onde a produtividade supera os 5.000 kg por hectare.
Angola ainda fica atrás até mesmo dos seus vizinhos africanos em termos de eficiência produtiva: nações como a Zâmbia e a Etiópia registam produtividades de 2.426 kg/ha e de 4.000 kg/ha, respectivamente. O que demonstra que há uma significativa defasagem tecnológica e de eficiência de Angola no cenário agrícola internacional.
A safra agrícola do país é diminuta quando comparada com o tamanho de sua população, com volume total de cerca de 26 milhões de toneladas em 2023. A nível de comparação, a safra 2022/2023 no Estado do Paraná (Sul do Brasil) – que tem um terço da população e Angola – foi quase o dobro: 47 milhões de toneladas.
Modelo de produção de subsistência
A despeito dos vários obstáculos, o sector agrícola de Angola é o maior empregador do país. O Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA) registou no último censo mais de 3 milhões de famílias de agricultores.
As famílias geralmente cultivam em pequenas parcelas de terra, com uma média de apenas 2,17 hectares cada, refletindo um modelo de produção de subsistência fragmentado e de pequena escala.
Entre os alimentos produzidos em Angola destacam-se a produção de raízes e tubérculos (13 milhões de toneladas) e que ocupa 22% da área cultivada. A produção de frutas e hortícolas contribui, respectivamente, com 6 milhões e 2 milhões de toneladas.
Mesmo ocupando 53% da área total plantada, a produção total de cereais em 2022 foi de apenas 3,2 milhões de toneladas, com o milho contribuindo com 97% dessa categoria. A produção de arroz, que compõe os hábitos alimentares das famílias angolanas, é inexpressiva, com cerca de 10 mil toneladas produzidas anualmente.
Tragicamente, essa produção é insuficiente para sustentar uma população de mais de 30 milhões de habitantes e está muito aquém das potencialidades do país.
A dependência absurda de importação de comida
Apesar da sua vasta terra arável, vantagens climáticas e vastos recursos hídricos, Angola importa a maior parte dos seus géneros alimentícios. Em 2023, de acordo com dados do Banco Nacional, Angola gastou cerca de 3 bilhões de dólares em importações de alimentos. Em especial, destacam-se a importação de arroz (600 mil toneladas), óleo de palma (200 mil m3), frango (300 toneladas) e farinha de trigo (100 mil toneladas).
Autossuficiente na produção de alguns alimentos básicos, como a mandioca e o milho, Angola, todavia, ainda precisa importar uma quantidade significativa de produtos agrícolas, principalmente cereais, lácteos e carnes, para suprir a demanda interna.
De acordo com informações sobre o comércio exterior de Angola, os principais produtos agrícolas exportados e importados pelo país são:
- Produtos agrícolas importados por Angola: Trigo, arroz, leite e derivados, proteína animal, óleos vegetais, frutas, legumes, cereais em geral;
- Produtos agrícolas exportados por Angola: café, açúcar, tabaco, algodão, milho, feijão, batata doce, mandioca, banana, abacaxi.
Planos e programas que não dão nem grãos e nem frutos
Embora a agricultura familiar seja a maior empregadora do país, com mais de 3 milhões de famílias de agricultores, o Governo de Angola dispensa menos de 2% do Orçamento Geral do Estado para esta actividade tão fundamental para a sobrevivência do povo angolano.
Ao longo do tempo foram elaborados diversos planos e programas para a reabilitação e expansão da produção agropecuária no país. Entretanto, estas iniciativas são pouco visíveis para o público, que assim desconhece as ações que efectivamente estão a ser implementadas e as perspectivas de sucesso desses planos.