Sonho colonial português não resistiu à falta de apoio do principal suporte do regime

Lisboa, (Lusa) – O sonho colonial português, o mais perene da Europa Ocidental, caiu em 25 de abril de 1974 por ação do golpe de Estado conduzido pelas forças armadas, que tinham sido até então o principal suporte do regime.

O resultado foi a independência de todas as colónias espalhadas por África e Ásia, as únicas que sobravam do império colonial, depois de em 18 de dezembro de 1961 a Índia ter posto fim à presença portuguesa com a recuperação, pela força, dos territórios de Goa, Damão e Diu, encerrando assim, o sonho colonial de Portugal.

Posteriormente, em 24 de setembro de 1973, a declaração unilateral de independência da então província ultramarina da Guiné (atual Guiné-Bissau) abriu caminho à queda, reconhecidamente tardia, das restantes pedras do dominó colonial português.

A Guiné foi, aliás, o pior dos cenários para as forças armadas coloniais, em que a autoridade portuguesa se fazia sentir praticamente nas principais urbes, incluindo a capital, Bissau, porquanto o resto do território era controlado e administrado pelo Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), liderado por Amílcar Cabral.

A declaração unilateral de independência foi reconhecida de imediato por 17 países, num movimento crescente, que se consolidou até ao derrube do então sonho colonial, em 25 de abril.

A perda da vantagem por parte da Força Aérea Portuguesa, com a entrada no conflito dos mísseis terra-ar ‘Strela’, de fabrico soviético, arrumou a questão e liquidou as possibilidades de vitória militar das forças armadas portuguesas no terreno.

Em 2025 completam-se 50 anos sobre as independências de Moçambique (25 de junho), Cabo Verde (05 de julho), São Tomé e Príncipe (12 de julho), Angola (11 de novembro) e de Timor-Leste (28 de novembro), mas cada uma das antigas colónias conta uma história diferente.

No caso de Timor-Leste, a independência foi declarada, também unilateralmente, em 28 de novembro de 1975, ao que o poderoso vizinho indonésio, com o acordo tácito dos Estados Unidos, respondeu com a invasão do território.

A luta de guerrilha e a alteração da correlação de forças no xadrez internacional obrigou a Indonésia a aceitar a realização de um referendo em 30 de agosto de 1999, com a esmagadora maioria dos timorenses que participaram (78,5%) a preferir a independência e que acabou com 27 anos de ocupação.

A independência de Timor-Leste viria a ser formalmente reconhecida pela comunidade internacional em 20 de maio de 2002.

Todavia, para os timorenses em 20 de maio o que houve foi a restauração da independência.

A diferença da história de cada uma das antigas colónias é exemplificada pela evolução de cada uma nestes 50 anos de independência, que na maior parte dos casos foi extremamente complicada.

Em Angola e Moçambique, cenários do confronto por via indireta das superpotências EUA e URSS (atual Federação da Rússia), registou-se a participação direta de Cuba e da África do Sul, no primeiro caso, e da antiga Rodésia (atual Zimbabué) e da África do Sul, no segundo.

Ou seja, os conflitos armados em Angola e Moçambique foram o exemplo do que se designam como “guerras por procuração” dentro do contexto maior que foi a Guerra Fria.

No caso de Angola, a guerra civil apenas terminou de facto em 2002, com a morte em combate de Jonas Savimbi, líder da maior organização da oposição, a União Nacional para a Independência Total de Angola.

Em Moçambique, a mediação da igreja Católica permitiu acabar também com uma guerra civil que se prolongava há 17 anos e que terminou com a assinatura, em 04 de outubro de 1992, do Acordo geral de Paz.

Os valiosos recursos naturais dos dois países ajudam a explicar por que razão a estabilidade política não terá passado de uma quimera.

Cabo Verde e São Tomé e Príncipe não tiveram lutas armadas pela independência e foram as únicas antigas colónias que experimentaram com sucesso a alternância do poder entre os partidos/movimentos que lideraram a luta anticolonial e as novas formações partidárias surgidas pós-independência.

A alternância no caso da Guiné-Bissau também se verificou, mas tem sido marcada pela crescente intolerância e animosidade, além da perpetuação dos índices de pobreza e nepotismo.

Foi também o primeiro país que ascendeu à independência a sofrer um golpe de Estado.

Em 14 de novembro de 1980, Luís Cabral, irmão de Amílcar Cabral e primeiro Presidente, foi derrubado por um golpe dirigido por João Bernardo “Nino” Vieira, que foram quem lera sete anos antes a proclamação unilateral de independência.

Desde então, as intentonas, umas bem-sucedidas outras mal explicadas, num saldo de quatro golpes de Estado e uma guerra civil (1998-1999), consolidaram a caracterização por organizações internacionais de um país refém de interesses externos ligados ao narcotráfico.

EL // VM

Lusa/Fim

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