Suspensão da USAID encerra programas na Colômbia e coloca em risco acordo de paz com Farc

QUIBDÓ, Colômbia (Reuters) – A suspensão global do financiamento da USAID está fechando programas de paz e de combate às gangues nos lugares mais pobres da Colômbia, colocando em risco a implementação do acordo de paz de 2016 do país com os rebeldes das Farc, de acordo com autoridades, pessoas que trabalham com a agência e beneficiários.

A suspensão de quase todo o financiamento da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) pelo governo Trump colocou em xeque as iniciativas humanitárias em todo o mundo.

Nos últimos anos, a Colômbia recebeu até US$440 milhões anuais em assistência da USAID para mais de 80 programas, o que a tornou a maior beneficiária dos recursos da agência no hemisfério ocidental, de acordo com dados do governo dos EUA.

Os cortes e suspensão da USAID colocarão em risco a implementação do acordo com os rebeldes esquerdistas das Farc, que inclui esforços para reduzir a produção de cocaína, disseram ex-ministro das Relações Exteriores da Colômbia, um parlamentar, uma autoridade que trabalhou em programas da Usid e outra fonte com conhecimento do financiamento.

A ajuda financiou programas de reintegração para ex-rebeldes, incluindo projetos econômicos para empregar ex-combatentes. Mesmo com o apoio internacional para a reintegração, alguns rebeldes, alegando falha na implementação do acordo com as Farc, começaram a retornar aos grupos armados já em 2019. Partes do país ainda são assoladas pela violência.

O presidente Gustavo Petro se comprometeu a acabar com a guerra no país, mas faltam menos de 17 meses para o fim de seu mandato e ele ainda não assinou nenhum acordo. Os principais grupos armados, como os rebeldes do Exército de Libertação Nacional (ELN) e ex-Farc que formaram organizações dissidentes, se fragmentaram internamente durante o mandato de Petro, prejudicando a maioria das negociações.

Luis Gilberto Murillo, que até janeiro era o ministro das Relações Exteriores da Colômbia e anteriormente atuou como embaixador do país nos EUA e conselheiro da USAID, disse que os cortes afetarão várias organizações voltadas para os direitos humanos, democracia, construção da paz e ajuda aos povos indígenas e afro-colombianos.

“Acho que isso criará mais risco de violência e mais vulnerabilidade porque o papel dos programas da USAID nessas regiões tem sido decisivo”, afirmou ele.

A produção e o tráfico de cocaína — realizados por uma série de grupos rebeldes e gangues criminosas descendentes de antigos paramilitares — são um dos maiores fatores da violência contínua. Os principais destinos da cocaína são EUA e Europa.

O governo colombiano não respondeu a um pedido de comentário sobre os cortes e o efeito sobre as perspectivas de paz. A USAID e o Departamento de Estado também não responderam.

Os EUA forneceram 42% da ajuda externa para a implementação do acordo — que inclui reforma agrária e um sistema de justiça de transição para condenar combatentes por crimes de guerra — entre 2018 e 2024, totalizando cerca de US$1,26 bilhão, de acordo com dados do governo da Colômbia.

“Os cortes da USAID terão um impacto significativo e negativo na implementação dos acordos de paz”, declarou James Hermenegildo Mosquera, um parlamentar da câmara baixa da província de Choco que ocupa uma cadeira especialmente reservada para as vítimas do conflito. Ele disse que as reparações às vítimas e a reforma agrária serão afetadas, “aumentando os riscos de violência decorrentes do tráfico de drogas”.

Elizabeth Dickinson, analista sênior do Crisis Group para a Colômbia, afirmou: “Vários dos projetos que foram cancelados se concentravam em oferecer alternativas a ex-agricultores que cultivavam coca.”

O governo colombiano foi forçado a reduzir os gastos no ano passado e a Reuters não conseguiu determinar se o país compensará a ajuda cancelada ou se a obterá de outros doadores.

(Reportagem de Alfie Pannell em Quibdo, reportagem adicional de Julia Symmes Cobb e Luis Jaime Acosta em Bogotá)

Por Alfie Pannell

Reuters

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