Tribunal superior da Romênia anula resultado de eleição presidencial

BUCARESTE (Reuters) – O tribunal superior da Romênia anulou a eleição presidencial em andamento após acusações de interferência russa e determinou nesta sexta-feira que todo o processo, que seria concluído neste fim de semana, seja repetido.

O segundo turno estava marcado para domingo e a votação já havia começado em seções eleitorais no exterior. Seria disputado entre Calin Georgescu, um candidato de extrema-direita e pró-russo, e a líder de centro pró-União Europeia, Elena Lasconi.

“O processo eleitoral para eleger o presidente da Romênia será totalmente repetido, e o governo definirá uma nova data e… um novo calendário para as etapas necessárias”, disse o tribunal em um comunicado.

Georgescu apareceu com apenas um dígito de intenção de votos nas pesquisas de opinião antes do primeiro turno em 24 de novembro, mas subiu para o primeiro lugar, o que levantou dúvidas sobre o resultado.

Georgescu quer acabar com o apoio da Romênia à Ucrânia contra a invasão da Rússia. Se ele ganhar a Presidência, abalaria a política pró-ocidental do membro da UE e da Otan, aproximando a Romênia de um cinturão de Estados na Europa Central e Oriental que têm poderosos políticos populistas e favoráveis à Rússia, incluindo Hungria, Eslováquia e Áustria.

A decisão judicial desta sexta-feira mergulhou o país em um caos institucional.

O mandato do atual presidente Klaus Iohannis terminará em 21 de dezembro, mas ele disse em um discurso televisionado que permanecerá em seu cargo até que um sucessor seja eleito, o que significa que ele nomeará um primeiro-ministro após a votação parlamentar de 1º de dezembro.

Analistas disseram que a decisão judicial pode corroer as instituições, desencadear protestos nas ruas e, em última instância, ainda colocar em risco o rumo pró-ocidental do país.

Ainda não estava claro se Georgescu teria permissão para participar da nova eleição.

O principal conselho de segurança da Romênia desclassificou documentos na última quarta-feira que diziam que o país foi alvo de “ataques russos híbridos agressivos” durante o período eleitoral.

A Rússia negou qualquer interferência nas campanhas eleitorais da Romênia.

O tribunal superior, que havia validado o primeiro turno presidencial na segunda-feira, disse em sua decisão para revertê-lo nesta sexta que os documentos desclassificados mostravam que todo o processo eleitoral havia sido prejudicado por manipulação de votos, irregularidades de campanha e financiamento não transparente.

Em uma declaração à emissora de televisão Realitatea, Georgescu classificou a decisão do tribunal de “golpe oficial”, prova do que ele disse ser um sistema corrupto que mostrou sua face.

Lasconi condenou a decisão do tribunal. “A decisão do tribunal constitucional é ilegal, amoral e esmaga a própria essência da democracia, o voto”, disse.

No entanto, o primeiro-ministro social-democrata Marcel Ciolacu apoiou a medida, dizendo que foi “a única solução correta”.

INVESTIGANDO CAMPANHA

A unidade de acusação contra o crime organizado da Romênia, DIICOT, disse que estava iniciando uma investigação sobre a campanha de Georgescu após analisar os documentos desclassificados.

O segundo turno de domingo teria sido a terceira votação consecutiva após o primeiro turno presidencial e a eleição parlamentar, na qual os partidos de extrema-direita conquistaram um terço das cadeiras, embora os social-democratas, que estão no poder, tenham emergido como o maior grupo e esperam montar um governo de coalizão pró-UE.

A votação parlamentar não foi afetada pela decisão judicial desta sexta-feira. O novo governo terá a tarefa de definir o novo cronograma para as eleições presidenciais, disse Iohannis, o atual presidente.

(Reportagem de Luiza Ilie; reportagem adicional de Hakan Ersen, Karin Strohecker e Barbara Erling)

Por Luiza Ilie

Reuters

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