UA sob escrutínio entre a resposta às guerras e as alterações climáticas

Lisboa, (Lusa) – Entre guerras em curso e outras que ameaçam escalar e os mecanismos tradicionais de pacificação a falharem, a União Africana (UA) reúne-se dentro de dias para mais uma cimeira em que o continente vai continuar a ser posto à prova.

E vai continuar a ser testada por causa do contexto internacional em que a cimeira se realiza, marcada para os próximos dias 15 e 16 em Adis Abeba, num encontro que marcará o início da presidência de Angola na UA.

A cimeira da União Africana coincide ainda com as primeiras ondas de choque provocadas pelos Estados Unidos, que neste segundo mandato do Presidente, Donald Trump, consolidam políticas isolacionistas e de desafio às regras, diplomáticas e de comércio externo, por exemplo, vigentes até agora.

No caso de África, além da continuação dos conflitos já conhecidos, ora marcados pelo fundamentalismo islâmico, com efeitos no desagregar de uma organização sub-regional como a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), além da situação ainda por resolver no norte de Moçambique, ora com operações militares que se perpetuam e ameaçam ultrapassar fronteiras nacionais – caso da República Democrática do Congo (RDCongo) -, resta aos seus líderes assumirem a mediação que por ora o Ocidente e outras potências externas se têm abstido de protagonizar.

A Organização Não-Governamental (ONG) Crisis Group, com sede em Londres e que se apresenta como tentando evitar guerras e definir políticas que construam um mundo mais pacífico, defende que em 2025 a União Africana deveria apoiar a mediação no Sudão, trabalhar para acabar com os confrontos multilaterais nos Grandes Lagos, reforçar a segurança na Somália e manter os canais abertos no Sahel central, ajudar os Camarões a organizar eleições credíveis e o Sudão do Sul a resistir à guerra no Sudão.

A estes objetivos, o Crisis Group junta ainda a necessidade do continente africano trabalhar numa abordagem consensual face ao impacto das alterações climáticas.

“As fragilidades da União Africana são bem conhecidas – o financiamento inadequado, as disputas no seio da Comissão da UA e a disputa pela liderança entre a UA e os seus blocos regionais limitam a sua capacidade de intervenção. No entanto, também tem alguns pontos fortes profundamente enraizados. Entre eles, o mais importante é talvez o facto de a sua legitimidade não ser contestada”, destaca o Crisis Group.

A capacidade da UA usar eficazmente a diplomacia depende da sua liderança, alerta a ONG.

O chadiano Moussa Faki Mahamat vai deixar a liderança da Comissão da União Africana após dois mandatos de quatro anos e ao cargo concorrem três diplomatas da África Oriental: o chefe da diplomacia do Djibuti, Mahamoud Youssouf, e os antigos ministros dos Negócios Estrangeiros de Madagáscar, Richard Randriamandrato, e do Quénia, Raila Odinga.

Segundo o Crisis Group, no seio da UA, “há pelo menos alguma esperança de que o novo presidente [da Comissão] traga uma nova energia e assertividade ao cargo, injetando vigor no trabalho da organização numa altura crucial”.

“Perante a escalada de guerras e conflitos prolongados, pode não ser justo esperar que a liderança da UA faça milagres, mas garantir que a organização utiliza todas as suas vantagens é cada vez mais importante, especialmente numa altura em que há todas as razões para esperar um desinteresse crescente dos EUA e uma distração da Europa”, acrescenta.

EL // JMC

Lusa/Fim

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