Um negócio da China

A mão de obra Angolana

O ciclo chinês não se encerrou em Angola. Mesmo em menor número em comparação a dez anos atrás, empresas continuam no país e captam seus próprios financiamentos.

Seguem conquistando obras vultosas, como a estação de trem e a pavimentação da zona da Boa Vista, construídas pela CTCE próximo ao porto de Luanda.

E explorando mão-de-obra angolana.

Salários oferecidos pelas empresas da China ficam aquém do que deveriam pagar, inferior ao salário mínimo mensal em Angola, que é de 32.181 kawnzas, equivalente a 37 euros.

O pior é que as obras entregues apresentam baixo padrão e qualidade. O barato acaba não saindo caro porque os empreendimentos ficam prontas em tempo recorde e, mal ou bem, acabam empregando o angolano.

Ao lado do Museu Nacional de História Militar, por exemplo, a China Huashi Group – H&S realiza intervenções para minimizar o impacto do escoamento de águas e a erosão na encosta da Fortaleza de São Miguel.

A China estimula também investimentos privados. A Huawei investiu U$ 80 milhões no ano passado para construir o Parque de Ciência Tecnológica e a West International, U$ 70 milhões numa fábrica de placas de gesso, em Benguela. Mais de 400 empresas chinesas atuam em Angola. O estoque de investimentos é de U$ 24 bilhões.

São chineses os construtores do novo aeroporto internacional de Luanda, que o governo pretender inaugurar no dia 10 de novembro, depois de quase 20 anos, atrasos e casos de corrupção relacionados à empresa CIF.

Os orientais constroem ainda uma ligação por trilhos entre a cidade e o terminal, que vai levar o nome de Dr António Agostinho Neto. A obra está a cargo da China Hyway Group Limited.

Na Avenida Fidel Castro, via expressa de 55 quilômetros de extensão ao redor de Luanda, encontra-se a Cidade da China, com três pórticos de entrada, onde vende-se de tudo que a China mais exporta, como eletrônicos, e até ingredientes típicos asiáticos.

Mas não só. Concessionárias de carros, de caminhões, máquinas agrícolas, oficinas especializadas em veículos chineses, fabricantes de bebidas e empresas de construção civil, de marcenaria, de gesso e blocos de concreto seguem firmes e fortes.

A invasão chinesa nesta ciranda financeira virou uma bola de neve em contas públicas. Um estudo da Chatham House, publicado em dezembro de 2022, mostrou que os credores chineses detinham 12% da dívida externa de todos os países da África, estimada em U$ 696 bilhões.

Ainda de acordo com o think tank britânico, conhecido como Instituto Real de Assuntos Internacionais, o pico dos empréstimos se encerrou em 2016.

Naquele ano, os contratos de empréstimo oriundos da China com governos e estatais africanas somaram U$ 28,4 bilhões e caíram para somente U$ 1,9 bilhão em 2020 (já sob impacto da covid-19). A razão, segundo o estudo, foram mudanças de políticas internas e prioridades da China e a dificuldade de pagamento por parte dos africanos.

Mas quais vantagens Angola pode obter nesta relação? Heitor Carvalho, coordenador do Centro de Investigação Económica da Universidade Lusíada, diz que “estas relações vão se desenvolvendo com alguns problemas, que são normais que ocorram, mas estes problemas são mais provocados pela parte angolana do que pelos chineses”.

“Fomos nós que pedimos aquele volume todo de empréstimo garantido por petróleo; nós é que fomos lá pedir, depois queixamo-nos das condições destes empréstimos serem mais ou menos penalizantes”, lembra Carvalho.

O problema desta narrativa economicista é que ela não apaga os séculos de exploração da mão de obra africana por estrangeiros de todas as origens. É uma questão central e se hoje são os chineses, no passado foram muitas outras nacionalidades. Está na hora do basta! Chega desta exploração, nem por chineses, nem por ninguém.

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