Uma Angola por surgir!

Se quisermos utilizar uma figura de estilo cujo nome não precisamos de dizer, o processo de independência (deixar de depender da então potência colonizadora e construir o novo país) pode ser comparado com o processo da constituição duma nova família onde os nubentes tornam-se independentes dos progenitores e constituem sua família própria, ou seja, realizam seu sonho familiar particular.

Nesta perspectiva, é fácil perceber que, em ambos os casos, ou seja, tanto a independência quanto o casamento (se olharmos para a constituição da nova família apenas na perspectiva Jurídico legal) são avaliados em três planos distintos, mas interdependentes.

O primeiro Plano é o jurídico-formal.
Os nubentes manifestam às famílias, à comunidade e ao poder instituído a sua intenção de constituir uma nova família e estes, por via de actos e procedimentos específicos proclamam e legalizam formalmente esta união concluindo-se assim o primeiro passo.

No caso da nossa Dipanda também os 3 movimentos em nome do povo angolano fizeram-no com maior ou menor dificuldade e o Estado português e as instituições internacionais afins, não obstante as querelas intra movimentos de libertação acabaram por formalizar esta legítima aspiração dos povos de Angola.

Dito de outra forma, no plano jurídico-formal, Angola é um país independente o que representa o momento de orgulho para todos os angolanos e subjacente à esta sensação de júbilo está o merecido reconhecimento dos heroísmos dos seus protagonistas de vanguarda e todos os participantes anónimos desta importantíssima odisseia dos povos de Angola.

O Plano da afirmação nacional e internacional do país como “nação” independente.
Da mesma forma como qualquer pai, ao ser confrontado com a intenção do noivo em casar-se com a sua filha, questiona logo de seguida as qualificações e atributos do mesmo, que garantam: a formação segura, duradoura e sustentável duma família (auto sustentabilidade, autonomia, perspectiva de crescimento, estabilidade entre outros), questiona-se a afirmação do país independente carecer de garantir que os protagonistas principais do processo ( a classe política do país) seja suficientemente capaz de lançar as bases da construção dum novo país baseada no sentido da sua auto sustentabilidade, autonomia, soberania e auto determinação.

Aqui começou a derrocada do país, pois ao invés da busca dos atributos acima indicados, a classe política (os 3 movimentos de libertação), mostraram claramente e conforme se pode decifrar das suas siglas (FNLA, MPLA e UNITA), que eles não conseguiam autonomamente passar da proclamação da independência para o plano da afirmação dum país realmente soberano com sonho e estratégia própria num mundo complexo como este em que vivemos.

Portanto a afirmação de Angola como país independente continua a ser uma miragem.

O último Plano é o da realização plena das expectativas materiais, emocionais e espirituais dos cidadãos do país independente.
No caso da família seria a realização das expectativas dos cônjuges, dos filhos e da comunidade em que estão inseridos.
Para comentar a performance do país independente para a realização das aspirações, sonhos e oportunidades dos angolanos donos do país independentes, ninguém melhor do que uma zungueira para o fazer.
Entrevistemos uma zungueira e ela melhor do que ninguém descreverá a frustração geral dos angolanos no que a realização dos seus sonhos diz respeito.

Os movimentos de libertação mesmo que travestidos da indumentária de partidos políticos não se prepararam para a construção de um país, mas sim e apenas para a substituição do poder colonial.

Se olharmos com olhos de ver, os acordos de Alvor, perceberemos que estamos diante dum acordo de transferência de poder político sem que se esclarecesse antes qual o projecto de país a construir baseado num sonho comum ou seja faltou a base estrutural da sociedade que deve ser consensual e não objecto das disputas governativas de poder.

Em conclusão, temos um país formal e legalmente constituído, que nunca se afirmou como tal e muito menos foi capaz de traduzir os nobres objetivos proclamados com a proclamação da independência, em realidades tangíveis e factuais na vida dos angolanos.

O futuro risonho resultante da afirmação do país independente no plano regional e internacional e a realização do Sonho Angolano requer um outro caminho.

Qual seria este país consensual? Em que valores, afinal, Angola se apoia e se reconhece? Esta construção precisa ser feita por lideranças emergidas da vontade popular expressa democraticamente e livre das amarras ideológicas, tão presentes até aqui.

Quem se habilita?

Compartilhe:

Hoje é o dia da Independência de Angola. Dia de celebrar e de chorar, até quando?
Governadora do Cuanza-Sul aborda proposta do OGE/2025 com deputados

Destaques

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Fill out this field
Fill out this field
Por favor insira um endereço de email válido.
You need to agree with the terms to proceed