Ficou famoso no marketing político um recurso utilizado pelos publicitários que faziam a campanha de John Kennedy em 1960 para a presidência dos Estados Unidos.
Apesar de Richard Nixon, seu principal adversário, ter fama de mentiroso, os marqueteiros do partido Democrata evitavam a todo custo chamá-lo assim. Imaginavam que grande parte do eleitorado poderia sentir pena do candidato republicano.
Qual foi a saída? Numa foto, colocaram a frase que iria acompanhar Nixon até o fim de sua vida. “Você compraria um carro usado deste homem?”. Deu certo. Kennedy venceu Nixon naquele pleito.
Se olhar o PIB de Angola em 2023, com tímido crescimento de 0,9%, enquanto que o crescimento médio do PIB para o continente africano em 2023 foi de 3,4%, daria para entender o resultado reformulando a pergunta: “Você faria negócio com Angola com tantos problemas de governação?
Em 2019, último ano em que o Ranking de Competitividade Global do Fórum Económico Mundial foi publicado, Angola ocupava a 137ª posição entre 141 países avaliados.
O país ficou atrás de economias como África do Sul (60º), Maurício (52º), Namíbia (91º) e Botsuana (91º), Quênia (95º), Gana (111º) e Ruanda (100º).
Algumas das principais fraquezas identificadas em Angola foram a baixa qualidade da infraestrutura, a fraca adoção de tecnologias da informação e comunicação, a instabilidade macroeconómia e a corrupção.
Diante de tantas vulnerabilidades, é natural que o Relatório Doing Business do Banco Mundial apontasse, em 2020, que Angola ocupava a 177ª posição entre 190 países avaliados no mundo no quesito facilidade de se fazer negócios.
Dentre os países africanos, Angola ficava atrás da maioria das economias do continente, incluindo África do Sul (84º), Maurício (13º), Ruanda (38º), Namíbia (104º) e Botsuana (87º).
Em comparação a outros países da África Subsaariana, Angola era superado por economias como Quênia (56º), Gana (118º) e Cabo Verde (137º).
Algumas das principais dificuldades enfrentadas por Angola no ambiente de negócios foram: o acesso ao crédito, o registo de propriedades, o pagamento de impostos e o comércio internacional.
Isso demonstra que Angola ainda enfrenta sérios obstáculos burocráticos e institucionais para criar um ambiente favorável ao desenvolvimento do sector privado e atrair investimentos estrangeiros.
Fraco desempenho no combate à corrupção
Entre tantos outros motivos, Angola está na cauda no Ranking de Competitividade Global do Fórum Económico Mundial porque não possui também, como foi dito acima, uma boa classificação no Índice de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional.
Em 2022, Angola ocupava a 116ª posição entre 180 países e territórios avaliados. O ranking coloca a Nação como um dos países mais corruptos da África Subsaariana, ficando apenas à frente de alguns países como Guiné-Bissau, Chade e Sudão do Sul.
Comparado a outras economias emergentes da África, como África do Sul, Ruanda e Botsuana, Angola apresenta um desempenho muito pior no combate à corrupção. Desde 2015, no entanto, Angola tem melhorado no ranking de combate à corrupção.
De acordo com a lista da Transparência Internacional, Angola hoje é o 64º país mais corrupto do mundo, mas em 2017 era o 14º. Apesar da melhoria, o país ainda é considerado um dos co-irmãos africanos com maiores índices de corrupção, ocupando uma posição muito desfavorável no ranking global. Para poder ser bem-sucedido na venda do carro, sem desconfiança do comprador, é preciso limpar o nome primeiro. Está aí um grande desafio a ser superado pelas autoridades e sociedade civil.
Se não mudar só vai piorar
Tem outro trabalho de casa a fazer. Conforme o Índice de Democracia elaborado pelo Departamento de Inteligência do jornal The Economist, a posição de Angola é de 143ª lugar entre 167 países e territórios analisados.
Dentre os países africanos, Angola ficava atrás da maioria das economias do continente, incluindo África do Sul (47º), Cabo Verde (26º), Maurício (16º) e Botsuana (33º). Em comparação a outros países da África Subsaariana, o país era superado por nações como Gana (59º), Senegal (82º) e Benin (87º).
Portanto, a posição de Angola é considerada muito baixa, classificando-o como um regime híbrido, com características tanto democráticas quanto autoritárias. Em outras palavras, está a faltar crédito na praça para fazer a roda da economia girar.
No mundo dos negócios, não adianta ser bom de conversa se o produto exposto na prateleira continental vale kwanzas, e não euros ou dólares como quer comercializar o desacreditado vendedor angolano. Já foi o tempo em que se comprava gato por lebre.