Sistema patriarcal e desemprego na base da violência contra a mulher em Timor-Leste

Díli, (Lusa) – O desemprego, a cultura de sistema patriarcal, a pobreza e até infidelidade foram apontados por várias organizações não-governamentais e pela igreja católica como causas para a elevada violência contra mulheres e raparigas em Timor-Leste.

Dados de 2022 da Comissão para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres, da ONU, indicam que em Timor-Leste mais de metade das mulheres entre os 15 e os 49 anos sofreram violência física ou sexual de um parceiro do sexo masculino, e esse dado muito reflete no sistema patriarcal e desemprego das mulheres no país.

Maria Domingas Fernandes Alves, antiga ministra da Solidariedade Social e membro do Fórum de Comunicação das Mulheres de Timor-Leste (Fokupers), considerou que a violência baseada no género continua a aumentar porque o “país é pobre” e também “devido ao desemprego”, em declarações à Lusa no âmbito do Dia da Mulher, que hoje se assinala.

Mas, salientou, também porque o sistema patriarcal continua a prevalecer em Timor-Leste, bem como a cultura de violência.

“Muitas mães ainda batem nos filhos, porque no passado, quando as crianças eram castigadas, ouviam os pais. Mas hoje já não é assim. Eu nunca bati nos meus filhos. Em vez disso, sempre os castiguei de outra forma e ensinei o que era certo e errado. Cada pessoa tem a sua maneira de educar, mas eu sempre lutei pela igualdade de género”, explicou.

O Fokupers registou 231 casos de violência baseada no género em 2023. Entre os diferentes tipos de violência registados incluem-se a violência física cometida pelo próprio marido, a violência sexual, o incesto, a tentativa de agressão e o abandono.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, em 2023, a Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) recebeu 320 queixas de “maus-tratos a cônjuge”, num país com 1,3 milhões de habitantes e onde mais de metade da população tem menos de 35 anos.

Para o padre Paulus Maia, da Arquidiocese de Díli, a questão passa pelo facto de muitas pessoas hoje constituírem família sem perceberem o verdadeiro sentido da “vida em casal”.

“Não conhecem o verdadeiro sentido da vida em casal, que é o amor, o respeito, o sacrifício mútuo e a unidade. Podemos dizer que muitos casais acabam juntos por acidente e, mais tarde, quando perdem o controlo da relação, a mulher sofre as consequências”, disse o padre.

Outro fator apontado pelo pároco é a questão económica, como o desemprego, que faz surgir os conflitos, porque as “necessidades básicas da família não estão satisfeitas”.

Mas, segundo o padre Paulus Maia, a “infidelidade” também leva a conflitos e atos de violência.

Já a presidente do Grupo das Mulheres Parlamentares de Timor-Leste (GMPTL), a deputada Aliança da Conceição Araújo, entende que a violência contra as mulheres surge por falta de “unidade familiar”.

Por outro lado, afirmou a deputada do Conselho Nacional da Reconstrução de Timor (CNRT), o sistema patriarcal continua a ser seguido e muito homens “mantêm-se firmes na ideia de que são superiores e isso leva à violência contra as mulheres”.

Segundo Aliança Araújo, para acabar com o sistema patriarcal, é necessário que toda a sociedade contribua, incluindo os homens, que “devem ajudar as mulheres e dar-lhes oportunidades para que possam participar plenamente na sociedade”.

A presidente do GMPTL explicou ainda que o Parlamento Nacional está a reforçar os seus esforços, realizando fiscalizações e deslocando-se ao terreno para aconselhar os homens a evitarem comportamentos violentos.

DPYF/MSE // VM

Lusa/Fim

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