Maputo, (Lusa) – A Ordem dos Advogados de Moçambique pediu esclarecimentos das motivações e punição exemplar aos autores do atentado contra um dos apoiantes do político Venâncio Mondlane, argumentando que o ataque representa expressão de “violência e intolerância”.
“Mais do que condenar este frustrado assassínio, até porque exemplos semelhantes abundam na nossa sociedade, devemos procurar esclarecer as motivações, os autores morais e materiais e, nesse desiderato, dar exemplo de punição”, defendeu a Ordem dos Advogados de Moçambique, em comunicado à imprensa.
Joel Amaral, músico e um dos apoiantes do ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, foi alvejado a tiro no domingo, na cidade de Quelimane, capital provincial da Zambézia, centro do país, e, segundo as autoridades de saúde, está “sob cuidados intensivos e a evoluir bem”.
Em comunicado, os advogados moçambicanos pedem uma investigação para combater as “redes clandestinas” que atentaram contra o apoiante de Mondlane, referindo que visam sacrificar as liberdades e direitos individuais e coletivos e apontando que representam forma de “violência, intolerância e opressão”.
“Antes mesmo das ideologias, somos humanos e devemos preservar esta condição. É repugnante pensar em assassinar outro semelhante porque pensa diferente (…) A reconciliação não se viabiliza com recurso a uma caneta de correção de exames, mas com a tolerância”, defende a Ordem, pedindo igualmente respeito pelas diferenças de opiniões.
Os partidos políticos moçambicanos com assento parlamentar também consideraram o atentado contra o apoiante de Mondlane “intolerância política” que coloca em causa “pilares da democracia”, e pedem uma investigação policial para esclarecer o caso.
Venâncio Mondlane ameaçou na segunda-feira convocar protestos “100 vezes piores” se a “perseguição política” aos seus apoiantes continuar.
O ex-candidato presidencial, que rejeita os resultados das eleições de 09 de outubro, liderou, nos últimos cinco meses, a pior contestação aos resultados eleitorais que o país conheceu desde as primeiras eleições multipartidárias (1994), com protestos em que cerca de 390 pessoas perderam a vida em confrontos com a polícia, segundo dados de organizações da sociedade civil, degenerando, igualmente, em saques e destruição de empresas e infraestruturas públicas.
O Governo moçambicano confirmou anteriormente pelo menos 80 óbitos, além da destruição de 1.677 estabelecimentos comerciais, 177 escolas e 23 unidades sanitárias durante as manifestações.
Logo após as eleições gerais de 2024, o assessor jurídico de Venâncio Mondlane, o conhecido advogado Elvino Dias, e o mandatário do Podemos, Paulo Cuambe, partido que apoiava a sua candidatura presidencial, foram baleados mortalmente na noite de 18 de outubro, numa emboscada à viatura em que seguiam no centro de Maputo, com tiros de metralhadora, num crime que provocou a comoção na sociedade moçambicana e que continua por esclarecer.
O Presidente moçambicano, Daniel Chapo, também reagiu ao ataque contra Joel Amaral, classificando o ato como uma “afronta à democracia” e pedindo uma “investigação cabal”.
PME (PVJ/EAC) // VM
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